segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um pouco de história e algumas observações

Panorâmica de Istambul. Clica aqui que aumenta!
Istambul é um palimpsesto*. 

Já foi Bizâncio, até 330 d.C e já foi Constantinopla, até 1453, quando se rendeu ao exército do sultão otomano Mehmet II e se passou a chamar Istambul. Até hoje é chamada por esse último nome em alguns países, como a Grécia (Κωνσταντινούπολις, Konstantinoúpolis). 


Mapa de Constantinopla

Mehmet II invadindo Constantinopla

Atualmente, embora a capital do país seja Ancara, Istambul continua sendo o principal polo industrial, comercial, cultural e universitário. É a sede do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, sede da Igreja Ortodoxa.

É a quinta maior cidade do mundo e a mais populosa da Europa. E a maior da Turquia, é claro.

Mas, para se falar de Turquia, primeiramente é necessário entender como se formou o país: 

O povo turco descende de tribos nômades da Ásia Central. Ao redor do século 10º, algumas dessas tribos, entre elas os seljúcidas, invadiram a Anatólia, que era governada pelos bizantinos. Em 1071, os bizantinos tentaram derrotar os seljúcidas, mas a batalha acabou eliminando a dominação bizantina na Ásia Menor. Isso resultou na formação de uma série de Estados islâmico-turcos, que viriam a se tornar parte do Império Turco.

Os seljúcidas, para consolidar seu poder, criaram relações comerciais com outros Estados, como Bizâncio, Chipre, Pisa, Veneza, Florença e Gênova, construíram pontes para facilitar o comércio e caravanserais para abrigar caravanas de camelos com mercadorias.

Caravanserai em Saruhan, Capadócia

A Grécia foi ocupada pelos turcos durante 4 séculos, fazendo parte do Império Otomano. Desse modo, até o começo do século XIX havia muitos gregos que viviam na Turquia e vice-versa.

O pai da república turca foi Mustafa Kemal, conhecido como Atatürk. O cara é um ídolo. O cara é uma entidade, uma divindade. Nunca vi um líder político com tanta aprovação em toda a História.

É Allah no céu e Atatürk também

Todos os estabelecimentos na Turquia têm uma foto dele. Aqui no Brasil, a gente tem notas de dinheiro com mico-leão-dourado, ararinha. Lá, só dá Atatürk. Todas as notas têm a cara dele. É uma veneração realmente espantosa.

Com as perdas da I Guerra Mundial e a ocupação de partes da Turquia por países como Reino Unido, França e Itália, o nacionalismo turco foi atiçado.

Após tropas gregas invadirem Izmir em 1919 e avançarem até Ancara, que viria a se tornar a capital, as ideias nacionalistas de Atatürk para a criação da república turca ganharam força.

Foi então que o Tratado de Lausanne (1923) definiu as fronteiras e os territórios do Estado turco. Como parte do acordo do paz, a Grécia e a Turquia fizeram a troca de suas populações. Cerca de 1.2 milhão de gregos que moravam na Turquia retornaram à Grécia e 450 mil turcos voltaram à Turquia.

De acordo com o nosso guia em Göreme, tanto os gregos que viviam lá e os turcos que viviam na Grécia tinham uma vida muito difícil na época da guerra, pois não podiam entrar para o exército; de outro modo eles seriam treinados exatamente para lutar contra seu próprio país. Para compensar esse impedimento, tanto o governo turco quanto o grego cobravam impostos muito altos para os gregos e turcos que não estavam em seu país de origem.

Atatürk admirava o estilo de vida europeu e suas ideias visavam a um Estado moderno e secular. Queria uma democracia multipartidária, com um partido de oposição. Ele adotou reformas radicais e pegou emprestado leis de outros países europeus. A escrita otomana foi substituída pelo alfabeto latino e adotou-se a nova língua turca.

Mudaram-se as regras de se vestir, por exemplo, não sendo necessário o uso obrigatório do véu, e foram adotados sobrenomes.
Em 1928, foi reconhecido o Estado secular assegurado por uma Constituição civil.

Considerando toda essa história, é fácil perceber o quão misturada é a cultura de modo geral na Turquia. Há influências bizantinas, romanas, gregas, islâmicas e ocidentais hoje em dia.

Istambul é uma cidade moderna e cosmopolita, que tem até uma forte cena gay. À medida em que se vai para o interior, é claro, a cultura é mais conservadora, mas nem por isso 3 mulheres viajando sozinhas correram qualquer perigo pelo país. Fomos muito bem recebidas.

Turcos são pessoas completamente hospitaleiras, simpáticas, que se sentem na liberdade de contar a vida inteira se você der dois dedos de prosa.

Conhecemos muita gente interessante com muita história que só achávamos que acontecia em filmes ou novelas. 

O que todo mundo me pergunta quando falo sobre a Turquia é: o machismo é opressivo? é perigoso para mulheres andarem por lá?

Não.

O machismo não é opressivo, apesar de notável. 
Mulheres muçulmanas, que usam véu e andam com seus maridos pelas ruas, claramente andam atrás deles, e normalmente carregam sacolas de compras enquanto eles têm as mãos vazias.

Hamams (banhos turcos) e salões de cabeleireiros têm partes separadas para homens e mulheres.

Não foi uma ou duas vezes que, ao descobrirem que era uma mãe e duas filhas viajando, perguntaram onde estava o papai, e ao ouvir a resposta de que "papai está em casa" (não era verdade; papai morreu), falavam que estávamos lá então viajando gastando o dinheiro do papai. 

É simples assim. Há que se entrar no jogo. Não são situações isoladas. São atitudes-padrão de qualquer homem comum com quem uma mulher venha a falar, não porque têm preconceito, mas porque cresceram dentro desse sistema.

Minha dica para mulheres que vão solteiras é: vão de aliança. Funciona como um campo de força e eles mudam automaticamente de assunto.

Tirando o assédio, que depois de alguns dias se torna meio maçante, eu não tenho reclamações sobre o povo turco, que me deixou até com raiva de brasileiros que prestam serviços a turistas, por exemplo em cidades como Natal ou Fortaleza, em que você é mal atendido, normalmente querem te passar a perna, e você sai do lugar achando que é um babaca.

Lá, te oferecem chá em qualquer estabelecimento, sentam você num banquinho, conversam sobre a vida, botam a loja abaixo mesmo que você não for levar nada, abaixam o preço e normalmente dão uma lembrancinha quando você vai embora.

Espécime exemplo da simpatia turca
A cultura, enfim, É diferente, mas né? Claro que, pra quem quer ficar em zona de conforto, é melhor ficar em casa.

FONTES: Guia Visual da Folha, Wikipedia e nosso guia turístico na Capadócia, Adem. =)

*Palimpsesto era uma prática utilizada na Idade Média em pergaminhos em que o texto era apagado para que o pergaminho fosse reutilizado. Na época, o papiro tinha um custo muito elevado.

7 comentários:

  1. Me surpreendi! Achei que o machismo era muito mais pesado por lá... mas, por via das dúvidas, se algum dia eu for caminhar por esses lados de lá, vou seguir sua dica da aliança... hehehe

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Oi meninas, estou indo pra Turquia em Agosto e achei o blog de vcs com as dicas! vai ajudar bastante! Queria só tirar uma dúvida: De istambul pra capadoccia vocês foram de aviao ou ônibus? Se foram de ônibus, compraram lá mesmo?
    Bjs

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  4. Olá meninas, parabéns pelo blog, escrita dinâmica e bem humorada, além de ótimas dicas !! Estou indo para Turquia ALONE em agosto e sendo mulher estava receosa quanto a recepção turca para mulheres desacompanhadas, agora com seus comentários estou mais tranquila. Obrigadinha e parabéns!!

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  5. Oi Meninas! Acho que suas guia era mim:))) Pelo que eu sabia tem so um Adem fala Portuguese na Capadocia.Agredeço. Gostaria ajudar para suas amigos com qualqer coisa. admbulbul@gmail.com

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    1. Me disculpe, ele nao era mim. Nao pude falar Portuguese em 2011

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    2. Edilberto e Adelaide11 de agosto de 2013 às 18:01

      Adem
      Estamos indo para a Turquia e achar alguém falando português seria maravilhoso. Precisamos de mais informações e chegando à Capadócia queremos conhecer você.
      Beto e Adelaide

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